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Papa na audiência geral: fomos criados para a glória de Deus - 23/02/2011 - 14:21

Bento XVI acolheu na Sala Paulo VI, no Vaticano, nesta quarta-feira, dia de Audiência Geral, milhares de fiéis e peregrinos provenientes de várias partes do mundo.

 

Na catequese de hoje o Papa falou sobre São Roberto Belarmino que nasceu em Montepulciano, na Itália, no ano 1542, e desempenhou um papel importante na Igreja numa época marcada por graves crises políticas e religiosas.

 

De excelente formação humana, São Roberto Berlarmino entrou na Companhia de Jesus e estudou em Roma, Pádua e Leuven. Após o Concílio de Trento, tornou-se necessário para a Igreja Católica reforçar e confirmar a sua identidade diante da Reforma Protestante.

 

Este eminente jesuíta foi o primeiro professor do Colégio Romano, onde desenvolveu sua obra intitulada "Controvérsias", famosa pela clareza e riqueza de seu conteúdo, mas "Catecismo" foi seu trabalho mais famoso. Posteriormente, foi criado cardeal e arcebispo de Cápua, onde se destacou particularmente por seu talento como pregador e suas visitas às paróquias. Sua pregação e sua catequese convidam a concentrar todas as forças da alma no Senhor Jesus. Também desempenhou as mais altas responsabilidades a serviço do Papa.

 

"O que animava as várias atividades de São Roberto Belarmino era a meta principal: a santidade de vida, segundo o carisma inaciano. Ele nos oferece um modelo de oração que nos induz a contemplar a Palavra de Deus e tinha uma percepção muito forte da imensa bondade do Senhor" - frisou Bento XVI.

 

São Roberto Belarmino faleceu em Roma no ano 1621. Foi canonizado pelo Papa Pio X e proclamado Doutor da Igreja pelo Papa Pio XI.





Sanctus




Sede santos como vosso apai que está no céus é Santo

A palavra santidade é hoje uma palavra enigmática. O facto é em parte consequência da crise de modelos que caracteriza a nossa cultura. O herói tem o seu lugar na literatura, e o santo na penumbra inofensiva dos templos. Na vida, o mesmo é dizer, na nossa realidade mais próxima, ambos vivem apenas como sombras irreais, como protótipos mais próximos do mito do que de um modelo de quem se pode aprender ou que se pode imitar.
Provavelmente a noção de santidade, tal como a costumamos entender, chegou-nos primeiramente através das artes plásticas: a iconografia e a estatuária religiosa; em segundo lugar, através da literatura no género hagiográfico e apologético. Na realidade, nenhuma destas artes, parece-me, contribuíram para dar o real valor às vidas dos santos.

O santo – a santa – que aparece na maior parte da iconografia e da estatuária católica dá resposta sobretudo – e isso parece lógico – aos critérios do simbolismo plástico, que procura representar a personagem num momento paradigmático da sua existência. A arte – sobretudo a da época barroca – ignora o que é habitual, o quotidiano, que é precisamente o que ocupa a maior parte do tempo e das energias espirituais de uma pessoa, e concentra-se no episódico e grandioso, talvez também porque na arte o excepcional parece oferecer mais possibilidades expressivas do que o quotidiano.

Ainda que ser santo seja uma meta para todos os cristãos, não tem sido esse um pensamento comum nos escritos dos autores espirituais, pelo menos nos últimos dez ou doze séculos. E menos comum ainda é nesses autores a ideia de que as realidades que hoje chamamos ‘civis’, e que nos escritos espirituais são designadas como ‘mundo’ –isto é, tudo o que constitui a profissão, a família, as relações sociais, etc. –, não só podem ser palco da santidade, mas são de facto o meio, o instrumento e a matéria da santidade. Costumava-se afirmar que, ‘apesar’ das circunstâncias humanas, o ideal cristão era possível; mas que essas mesmas circunstâncias fossem precisamente o lugar e a ocasião do encontro com Deus , nem de longe, era tido em sincera consideração.

No século XX assistimos à clarificação do papel do cristão comum na Igreja. Um elemento fundamental dessa obra de clarificação é a consciência da sua chamada à plenitude da vida cristã ‘em e a partir’ das circunstâncias da sua vida, no contexto das suas actividades normais e correntes. Documentos decisivos do Concílio Vaticano II, que terminou em 1965, recolhem já essa ampliação da teologia do laicado. A contribuição de Josemaría Escrivá para essa nova consciência, desde que em 1928 fundou o Opus Dei, foi imensa.

A imagem plástica da santidade, tal como foi apresentada com frequência desde há muitos séculos, pode fazer-nos pensar que só as circunstâncias excepcionais são adequadas para enquadrar a vida do santo. Contudo, quando de verdade conhecemos um santo, quando a nossa própria vida se cruzou com a sua, temos de modificar essa ideia de santidade.

Temos de a mudar porque, possivelmente, àquela ideia de santidade lhe faltava realismo, consistência, proporção. Na contemplação daquelas imagens possivelmente havíamos procurado sinais extraordinários, e ao encontrá-los pode parecer-nos que a santidade radica fundamentalmente naquilo que era completamente diferente da ordem natural. Do facto de que a santidade tem a ver com Deus concluíamos, ao fim e ao cabo, que ela não tem nada a ver com a realidade material e com o humano.

Josemaría Escrivá, pelo contrário, faz-nos ver que o santo não se move num mundo de sombras e de aparências, mas neste nosso mundo de realidades humanas e concretas, em que há ‘algo de divino’ que ‘está já aí’ esperando que o homem o saiba encontrar. Esse mundo real é precisamente a matéria que se apresenta ao cristão para ser santo. A mesma matéria com a qual cada um de nós se tem de enfrentar diariamente na sua própria existência. E essa, por consequência, pode estar cheia, em todos os momentos, de transcendência divina.

Joaquín Navarro Valls, artigo publicado em L’Osservatore Romano